Já eram 5h, estava muito atrasada para pegar a condução, certamente receberia mais uma reclamação da patroa. Entretanto, a madame da Zona Sul, que nunca precisou usar um coletivo lotado, não tinha dimensão que sua empregada precisava pegar dois ônibus e um metrô para chegar no trabalho. Vera Lúcia sempre ouvia da sua patroa que parasse de “mimimi” e acordasse mais cedo. A moça não tinha nada a fazer, além de falar baixinho para si mesma “só se eu não dormir”. Uma vez, falou um pouco mais alto e, quase perdeu o emprego. Precisou pedir de joelhos para não ser demitida, ao mesmo tempo que chorava e pensava nos dois filhos.
E, mais um dia de serviço começa: lava, passa, cozinha, coloca e tira a mesa, dá banho nas crianças, leva o cachorro para passear, rega as plantas, faz faxina na casa. Ufa! Finalmente conseguiu parar para almoçar. Chega à tarde e, o serviço continua, precisa pegar as crianças na escola. Para Vera Lúcia, é triste pensar que cuida dos filhos dos patrões, enquanto os seus estão em casa sozinhos. Antes de ir embora, precisa deixar a mesa do café pronta. Finalizado o serviço, ela segue em direção a estação do metrô.
A luta continua, o seu esforço agora é conseguir um lugar para sentar, mas infelizmente não consegue e, todo o trajeto é feito em pé, espremida na condução como se fosse uma sardinha, ela só deseja chegar em casa, tomar um banho quente, brincar com os filhos e dormir. Enquanto sobe o morro, ouve trocas de tiros, fica desesperada e só pensa nas crianças, mas antes de completar o pensamento, uma bala perdida atinge o seu coração. Muito sangue escorre do seu corpo e Vera Lúcia cai no chão morta.
Assim, mais uma vida é perdida pela violência que aflige o país. Vera Lúcia, mulher, negra, mãe solteira e com apenas 23 anos, deixa dois filhos pequenos órfãos de mãe, porque de pai, já eram antes do nascimento. O seu pedido de proteção aos filhos foi realizado, mas ela não teve tanta sorte. Seus filhos ficarão jogados na sociedade sozinhos e, qual será o destino dessas crianças sem ninguém para ampará-los? Essa é só mais uma trágica história que acontece todos os dias no Brasil. E ainda tem algumas pessoas que querem mais violência. Mas, vale lembrar que a maioria da população não vive em condomínios luxuosos com segurança.
História Fictícia
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